quinta-feira, 27 de junho de 2013

XANGO, DA JUSTIÇA DIVINA AO EQUILIBRIO HUMANO


A muitos e muitos anos atrás, do outro lado do oceano Atlântico, num imenso continente multicultural chamado de África, mais precisamente num país chamado Nigéria, havia uma cidade, um vilarejo chamado de Oyó, neste vilarejo se cultuava uma divindade, um Orixá, seu nome era Xangô.

Todos que lá nasciam, filhos de Xangô, eram iniciados em seus mistérios, conheciam de seu poder, sabiam 

de sua sabedoria, bebiam na fonte do saber, cultuavam e desfrutavam de seu poder, e assim foi por muito tempo. Nós viemos a ser agraciados com esse conhecimento pela força bruta da escravização, nos foi trazido sua cultura através dos negros escravos embarcados da Costa do Ouro em seus navios Tumbeiros, onde os escravos sudaneses forçados ao trabalho e sofridos até seu limite, tiravam força de sua Lei Maior, de sua Justiça Divina, nosso querido pai Xangô.

Pela pluralidade da miscigenação de diversos povos tantos nos navios negreiros quanto na vivencia da senzala, cada povo com seu culto, sua crença e seu divino Orixá, formatou na junção e no culto aos Orixás que temos hoje, e falar de Xangô se torna cada vez mais difícil, pois o que falar desse Pai querido que ainda não foi falado? 

Xangô é um dos Orixás mais cultuados e respeitados do Brasil, um dos primeiros Orixás Iorubanos que teve sua cultura fincada em nossa terra. Xangô sempre tido como um Rei, autoridade do panteão africano.

A principio cultuado nas roças do Candomblé, teve também seu mistério revelado a nova religião que se apresentou no ano de 1908 pelo Caboclo das 7 Encruzilhadas através do médium Pai Zélio Fernandino de Moraes, que inclusive após a fundação da Tenda Espirita Nossa Senhora da Piedade, fundou também mais 7 casas, uma delas a Tenda de Xangô, e assim Xangô nasce também para a Umbanda, ou melhor, a Umbanda nasce para Xangô.

Xangô é indivisível, irremovível, pesado, forte, integro, suas lendas sempre se percebe sua autoridade, sua figura é a figura da determinação, mas nunca autoridade desmedida. É o Orixá da decisão sábia, pensada, medida, a balança sobre o bem e o mal.

Conhecido como Deus do raio e do trovão, na África antiga quando uma casa era atingida por um trovão ou um raio, os moradores deveriam pagar oferendas a Xangô, pois ali havia débitos com o Pai, e nos escombros da casa, os sacerdotes reviravam em busca de pedras quentes formadas pelo raio, pois ali estava a força e o axé de Xangô, já apresentando o que entendemos como Otá. Tem sua força assentada nas rochas, pedras, pedreiras, terrenos rochosos, pedras essas difíceis de quebrar, inabaláveis, fixas, assim como nosso Pai.

Xangô carrega sempre consigo seu símbolo máximo, o Oxé, um machado de duas lâminas, dois cortes em sentidos opostos. O Trono Masculino da Justiça jamais poderia olhar só para um lado, tomar as decisões 

sempre propensas voltadas ao mesmo interesse, por isso é seu símbolo máximo como patrono da justiça, pois nas contendas pode sempre pender para qualquer um dos lados, com liberdade, independência, com total abrangência de justiça.

A criação de Olorum é perfeita, e na irradiação da Justiça Divina assentou duas potencias, Xangô como o Trono Masculino da Justiça e Oro Iná como o Trono Feminino da Justiça, ou também podemos dizer, 

o Trono Masculino do Fogo e o Trono Feminino do Fogo, pois esta irradiação é a representação do elemento fogo. O fogo purificador, o fogo que constrói, o fogo que dilui todo emocional desequilibrado, e se até agora falamos de justiça então que coloquemos em seu lugar devido, assentado com nossa querida e sagrada Mãe Oro Ina, a grande representante do Fogo da Justiça Divina, e se podemos de melhor forma explicar como cada um atua universalmente, seria mais adequado dizer que Xangô é exemplificado no símbolo humano da justiça, a cega com a balança, pois Xangô é o equilíbrio.

O equilíbrio nunca pende para um lado ou para o outro, pois é estável, e assim também o é na criação, pois Xangô como qualidade divina equilibradora atua em nossas vidas independente de nossa vontade, pois todo universo, toda criação deve pulsar de forma equilibrada, e Xangô atua com excelência com sua energia abrasadora e consumidora das emotividades, mas também equilibrando, dando coesão e sustentação a toda criação, desde o perfeito equilíbrio dos átomos, como dá o equilíbrio da natureza e de nossa emoção e razão.

Xangô paralisa, purifica, equilibra, Yansã direciona, o complemento dos elementos, fogo e ar. O ar da vida ao fogo, o fogo consome o ar, paralisa, purifica em seguida movimento e direciona. Em sua onda geradora ígnea, Xangô atua com o fator equilibrador, Oro Ina com o fator consumidor, Xangô é o polo positivo dessa
onda, irradia em raios retos, estáveis e passivos, por irradiar em raios retos o faz de forma constante, mantendo o tempo todo, tudo e todos sob sua irradiação ininterrupta.


ESPECIFICAÇÕES


Cor: Marrom, vermelho e branco.

Cor da guia: Marrom.

Ervas: Barbatimão, para-raio, alfavaca-roxa, panaceia, bilreiro, erva de são joão, nega mina, eucalipto, bradamundo, caapeba, caferana, eucalipto limão, folha de figo, gitó, levante, mãe boa, manjericão roxo, hortelã, manjerona, carrapeta, erva grossa, mulungu, lírio do brejo, erva das lavadeiras, folha da fortuna.


Amaci: Seu amaci é feito com água de cachoeira e hortelã macerada ou com demais ervas de Xangô, curtida por três dias.


Saudação: Obá Nixé Kawo Kabiesilê

Assentamento: Pedra de raio ou de fogo dentro de uma gamela.


Dia da Semana: Quarta-feira.

Símbolo: Oxé (machado duplo).


Ponto de Força: Pedreira


Flores: Cravos vermelhos e brancos.


Pedras: Meteoritos, pirita, jaspe.


Metal: Estanho.


Elemento: Fogo.


Chakra: Cardíaco.


Bebida: Cerveja preta.


Sincretismo: São Jerônimo, São José, Santo Antônio, São Pedro, Moisés, São João Batista, dependendo da região.



CARACTERISTICAS DOS FILHOS DE XANGO

Ao se falar de características, aspectos físicos e psicológicos deve se levar em consideração todos os Orixás regentes da coroa de seu filho, e não tão somente o Orixá Ancestral, porém, aqui vamos balizar aspectos gerais de filhos de Xangô.

Geralmente são passivos, racionais, observadores, atentos, meditativos, geniais e pouco falantes. São honestos e sinceros, apreciam a leitura, a música, os discursos, a boa companhia e a 

companhia de mulheres vivazes. Não apreciam reuniões emotivas, os egoístas e os soberbos, são 

judiciosos, gostam de se vestir bem.

Filhos de Xangô tem uma grande dose de energia, enorme alto-estima, tem clara consciência de que sua opinião geralmente será decisiva, tal consciência se torna por vezes ligeiramente egocêntrica. 

Não aceitam com facilidade quando outros se opõem a suas ideias, gostam de dar a última palavra em tudo, mas ouvem as demais ideias, porém, se mantiverem sendo contrariados podem rapidamente se tornar violentos e incontroláveis, mas logo no momento quando a lei e a ordem é restabelecida voltam a seu comportamento usual. Se pudéssemos associar um arquétipo aos filhos de Xangô seria o déspota esclarecido.

Fisicamente atribuísse no geral um tipo forte, de estatura baixa ou média, com tendências a obesidade.

Os filhos de Xangô quando estão em desequilíbrio, vibrando negativamente são reclusos, calados, rancorosos, implacáveis nos seus juízos, intratáveis.

Filhos de Xangô costumam se afinizar com filhos de Oxalá, Oxóssi, Ogum, filhas de Yansã, Yemanjá, Oxum e Logunam.


OFERENDAS Á XANGO

O principio básico das oferendas é pedir ajuda divina, o Axé dos divinos Orixás, passarei abaixo uma oferenda básica e três especificas.

Nas oferendas a Pai Xangô, geralmente pedimos sabedoria nas tomadas de decisão, reflexão, apoio material, estabilidade material e espiritual, equilíbrio emocional, espiritual e ajudas em questões judiciais.


Oferenda básica: Toalha ou pano marrom, velas branca e marrom, fitas branca e marrom, linhas branca e marrom, frutas (abacaxi, melão, manga, melancia, figo, caqui, laranja, goiaba vermelha), vinho tinto seco, cerveja preta, comidas (quiabos picados em rodelas e levemente cozido, rabada cozida com cebolas cortadas em rodelas), pembas branca, marrom e vermelha, licor de chocolate. 


Oferenda especifica 1: 1 kg de quiabos crus, azeite de dendê para regar, 2 cebolas, cortadas em fatias no sentido do comprimento 4 velas marrom, 4 velas branca, 7 folhas de couve, arrumadas em círculos com os cabos para fora, 1 garrafa ou lata de cerveja preta (sem gelar), 1 coité para por a cerveja.


Entrega: coloque os quiabos no centro do círculo de folhas de couve, enfeite com as cebolas e regue com o dendê , abra a cerveja e coloque no coité, acenda as velas, espere queimar, recolha a embalagem da cerveja, junto com sacos plásticos e leve embora.


Oferenda especifica 2: 8 cajús, 8 cajás (ou 7 frutas do conde), 8 quiabos, 8 pinhões, 8 folhas de couve para servirem de base, 8 cervejas preta para regar as frutas, 8 velas marrom.

Arrumar as folhas de couve, depositar as frutas de modo estético, sempre preferindo as arrumações circulares (não cozinhar os pinhões, nem os quiabos), regar com a cerveja preta, acender as velas.


Oferenda especifica 3: 1 vela branca, 500g de quiabos escaldados enfeitados com rodelas de 1 cebola e regados no dendê, 1 cerveja preta pequena (sem gelar) 1 coité para colocar a cerveja, 1 folha de couve, para servir de base.

Pronto, foi oferecido acima uma oferenda básica, mais 3 especificas, e uma delas mais econômica, lembrando sempre que o efeito da oferenda não se consegue pelo numero de elementos colocados nem pelo montante gasto nelas, e sim com a intenção, o coração e a sua entrega espiritual no momento de faze-las, e mesmo oferecendo uma vela sequer, fazer isso de pleno e puro coração, assim se conectará a Deus e aos Orixás e receberá plenamente seu Axé divino.


LENDAS DE XANGO

Certa vez, viu-se Xangô acompanhado de seus exércitos frente a frente com um inimigo que tinha ordens de seus superiores de não fazer prisioneiros, as ordens era aniquilar o exército de Xangô, e assim foi feito, aqueles que caiam prisioneiros eram barbaramente aniquilados, destroçados, mutilados e seus pedaços jogados ao pé da montanha onde Xangô estava. Isso provocou a ira de Xangô que num movimento rápido, bate com o seu machado na pedra provocando faíscas que mais pareciam raios. 

E quanto mais batia mais os raios ganhavam forças e mais inimigos com eles abatia. Tantos foram os raios que todos os inimigos foram vencidos. Pela força do seu machado, mais uma vez Xangô saíra vencedor. Aos prisioneiros, os ministros de Xangô pediam o mesmo tratamento dado aos seus guerreiros, mutilação, atrocidades, destruição total. Com isso não concordou com Xangô.

- Não! O meu ódio não pode ultrapassar os limites da justiça, eram guerreiros cumprindo ordens, seus líderes é quem devem pagar!

E levantando novamente seu machado em direção ao céu, gerou uma série de raios, dirigindoos todos, contra os líderes, destruindo-os completamente e em seguida libertou a todos os prisioneiros que fascinados pela maneira de agir de Xangô, passaram a segui-lo e fazer parte de seus exércitos.


LENDA 2

Xangô era rei de Oyó, terra de seu pai; já sua mãe era da cidade de empê, no território de tapa. Por isso, ele não era considerado filho legítimo da cidade. 

A cada comentário maldoso Xangô cuspia fogo e soltava faíscas pelo nariz. Andava pelas ruas da cidade com seu Oxé, um machado de duas pontas, que o tornava cada vez mais forte e astuto onde havia um roubo, o rei era chamado e, com seu olhar certeiro, encontrava o ladrão onde quer que estivesse.

Para continuar reinando Xangô defendia com bravura sua cidade; chegou até a destronar o próprio irmão, Dadá, de uma cidade vizinha para ampliar seu reino. 

Com o prestigio conquistado, Xangô ergueu um palácio com cem colunas de bronze, no alto da cidade de Kossô, para viver com suas três esposas: Oyá ( Yansã ) amiga e guerreira; Oxum, coquete e faceira e Obá, amorosa e prestativa.

Para prosseguir com suas conquistas, Xangô pediu ao babalaô de Oyó uma fórmula para aumentar seus poderes; este entregou-lhe uma caixinha de bronze, recomendando que só fosse aberta em caso de extrema necessidade de defesa. 

Curioso, Xangô contou a Yansã o ocorrido e ambos, não se contendo, abriram a caixa antes do tempo. Imediatamente começou a relampejar e trovejar; os raios destruíram o palácio e a cidade, matando toda a população. Não suportando tanta tristeza, Xangô afundou terra adentro, retornando ao Orun.

(texto retirado do Jornal da Umbanda Sagrada)

Nenhum comentário:

Postar um comentário