Axé filhos de fé....
Gostaria de compartilhar que esta semana fui agraciado com a descoberta de minha Pombagira, a Sra. Pombagira Rosa Caveira. Mas, curiosidades a parte, resolvi buscar a sua história e abaixo coloco aquela que mais me chamou a atenção. Espero que gostem tanto quanto eu.
Laroyê Pombagira
Pombagira é Mojubá....
Dona Rosa Caveira é um mistério só.
Pomba gira pouco conhecida, tem reputação de maravilhosa curandeira e
aspecto inquietante. Nas imagens populares, ironicamente difíceis de
encontrar no Brasil, ela exibe um corpo meio esquelético e meio humano
coberto com capa e capucho. Nos meios
tradicionais é dito que ela é a “esposa” de Seu João Caveira, exu da
“Velha Guarda” do cemitério e Chefe da Linha dos Caveiras, um grupo de
servidores fiéis e muito prestativos. Em conversa ao pé do congá, com
alguns irmãos de fé que também circulam pelos caminhos de algumas
religiões de origem bantu (Kimbanda, Cangerê, Cabula), ouvi que Dona
Rosa Caveira é protagonista de inúmeras lendas. Uma delas conta que Rosa
nasceu no Oriente.
Sétima filha de uma simples família do
campo, desde cedo aprendeu com seus pais as artes da cura, pois eles
eram afamados xamãs. Sua falecida avó foi sua primeira guia espiritual.
Em sonhos, a querida alma da ancestral instruía e aconselhava a neta.
Rosa era uma menina privilegiada.
Aos dezenove anos ela conheceu um xamã
muito mais velho. Eles se apaixonaram e casaram. Ela então começou um
período muito intenso de atendimento espiritual aos cidadãos de sua vila
e arredores. Sua vida transcorreu cheia de méritos e bênçãos. Rosa
morreria depois de seu marido, saboreando o prazer de uma existência
dedicada os mais necessitados. Outra lenda nos conta o segredo de seu
nome… Ao redor da casinha onde sua família morava existia um roseiral
selvagem. No final da gravidez, sua mãe não teve tempo de pedir ajuda à
parteira local e a menina nasceu ali mesmo. Daí o nome: Rosa. Por que
caveira ?
Em certas regiões do Oriente, sobretudo
na Índia, Tibet e Butão, alguns xamãs e yogues utilizam a caveira humana
como um cálice ritual. A caveira, assim utilizada, não está relacionada
com magia negra ou qualquer arte malévola. No Budismo Tibetano os Lamas
utilizam uma caveira como cálice. Também fazem um pequeno tambor com
duas metades de caveira… Na Índia ele é chamado de Damaru e a caveira de
Kapala. Quando conheci a lenda de Rosa Caveira, imediatamente percebi a
conexão com as tradições yogues e tibetanas. Na minha imaginação eu
“vi” a grande mestra sentada numa alta montanha, segurando uma caveira e
em profundo estado de meditação. Seria Rosa Caveira tibetana?
Pode ser que a lenda tenha se
ocidentalizado e a planta original, que poderia ser o lótus, tenha se
transformado em rosa. Neste caso seu nome seria Pema em tibetano. Em
sânscrito, seu nome espiritual seria Kapalapadma (Lótus Caveira). Na
tradição budista e mágica do Tibet, Mongólia e arredores, existem muitas
histórias e lendas com as mesmas características das aqui mencionadas. O
fato é que como Pomba Gira brasileira, na gira do dia-a-dia dos
terreiros, Rosa Caveira é um pouco diferente de suas irmãs. Ela não se
firmou como “mulher da vida” ou errante marginal. Mas se perpetuou como
curandeira poderosa e ponte entre os diversos reinos do astral. Uma
outra curiosidade circunda esta Pomba Gira. Rosa Caveira trabalha e
vibra no cemitério…
Em algumas tradições orientais, as
mesmas mencionadas acima, certo grupo de adeptos utiliza o cemitério
para trabalhos espirituais de cura e transformação. Eles são chamados de
Kapalikas ou portadores da caveira! As mulheres do grupo, além da
caveira transportam um tridente. Certa vez eu estava caminhando com um
amigo indiano pelas ruas do centro de São Paulo. De repente, diante de
uma loja de artigos religiosos, ele literalmente ficou paralisado! Uma
grande e vermelha estátua de Pomba Gira estava diante de nós.
Nua, majestosa, segurando um tridente e
com uma caveira nos pés. Shivaji, meu amigo indiano, se curvou aos pés
da imagem e disse:
“Trishula Kapala Ma! O que você faz aqui?” Trishula Kapala Ma é a Mãe do Tridente e da Caveira,
uma representação do feminino sagrado
que pode rondar os lugares de cremação. Ela destrói os fantasmas
malignos e os demônios, come as ilusões humanas e resgata as almas das
mãos dos seres das trevas. Seu aspecto pode ser “terrível”, mas a luz e a
bondade emana de seu coração.
Atrás do aspecto funesto de Rosa Caveira
com certeza brilha a mesma luz. Nela se encontram o Oriente e o
Ocidente, o vermelho e o branco, a vida e a morte. Espero ter a
humildade de Shivaji e também sempre me curvar diante do sagrado
feminino.
Terrível ou bondoso, que importa?
(por: Umbanda no Peito)
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